segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A ESCOLA DO MEU FILHO ENTENDE SOBRE A SÍNDROME DE DOWN?


O momento inclusivo que vivemos facilitou muito o acesso de crianças com Síndrome de Down (SD) ao ensino regular. As escolas, em sua maioria, estão mais receptivas, mais abertas para a entrada de alunos com necessidades educativas especiais (NEEs).
O acolhimento é importante, seduz pais em um primeiro momento, mas logo mostra não ser suficiente, quando não se verifica uma efetiva aprendizagem. A escola que recebe, nem sempre aceita, nem sempre sabe o que fazer, nem sempre investe na busca de informação: pode pensar que ensinar a criança com SD é mais fácil do que é na realidade, ou que não vale a pena, subestimando a capacidade de aprender daquele aluno, ou ainda exigindo da criança um funcionamento "normal", sem respeitar suas diferenças. Estas visões simplistas e equivocadas sobre a aprendizagem de crianças com SD ocorriam com bastante freqüência, principalmente no início do movimento inclusivo, quando a entrada da criança na escola regular podia ocorrer de modo impositivo, e vinha carregada de noções preconceituosas e generalizadoras.
Hoje as escolas sabem mais sobre a SD, sobre as diferenças entre crianças, sobre as diferentes inteligências de cada aluno. E é da importância desse saber que queremos falar.
O saber pode estar no campo científico e teórico, pois há muito o que conhecer sobre a SD, características que determinam estilos de aprendizagem, como a criança aprende e como a professora deve ensinar, dificuldades sensoriais, aspectos cognitivos referentes à memória e atenção, o ritmo da aprendizagem, a necessidade da adaptação de currículo e de estratégias.... Mas há também o saber baseado no interesse, na capacidade de ver, perceber e se abrir para aquela criança, aprendendo com ela todo um jeito específico de ensinar, de atingir objetivos e de crescer como educador. A criança com dificuldades de aprendizagem ensina e transforma seu professor. O saber então passa pela busca de informações, pela atualização, pelas participações em grupos e palestras, pela abertura à colaboração dos outros profissionais envolvidos. Enfim, saber que tem uma criança com necessidades educativas especiais entre seus alunos, significa que ela, escola, também deve se adaptar à criança.
Escolas necessariamente entendem sobre o desenvolvimento normal das crianças nos aspectos motor, cognitivo, emocional, lingüístico e social. Partindo disso e da observação cuidadosa e detalhada do aluno que sai do padrão (padrão esse, cada vez mais elástico e "despadronizado"), vão poder se adequar a ele, perceber onde estão suas falhas e como trabalhar suas capacidades. Para realizar inclusão, não é necessário que a professora seja especialista na deficiência apresentada pela criança. Significa sim, que a escola e professores precisam adequar seu modo de ensinar, para que cada aluno possa aprender. É preciso explicitar as suas características, sem generalizar ou ignorar suas diferenças. A intenção da inclusão não é "igualar" a criança com SD aos colegas, é fazer com que ela aprenda dentro de suas possibilidades. Mas que aprenda.
Saber da história da criança nos contextos de saúde, familiar e escolar, é fundamental. Outras escolas, outras professoras com quem esteve, têm informações preciosas para transmitir, estratégias que funcionaram (ou não) a compartilhar, perfis de aprendizagem que vão delinear percursos futuros. Informar-se sobre vivências anteriores, crenças e estilo de vida da criança e sua família, traz importantes subsídios para o trabalho. É a partir desse saber que as estratégias são construídas. Saber o que a criança sabe, de onde está partindo, para saber o que aprende, em que áreas está crescendo.
As limitações de uma criança com deficiências podem ser fáceis de identificar, mas e a professora, sabe de si? Se pergunta quais são as suas próprias limitações, suas dificuldades ao ensinar cada aluno? E também é importante saber que saber sobre a SD de uma criança, não significa saber sobre a SD de outra, pois cada uma terá seus talentos, suas preferências, seus jeitos de aprender.
E a família, o que sabe sobre a escola de seu filho?
E a família? Como ela participa dessa vida acadêmica? Basta deixar a criança no portão e buscá-la no final do período, esperando aprendizagens e evoluções?A família que espera aprendizagem, que não se contenta com socialização, precisa assumir seu papel neste processo, no qual a escola não pode ser a única responsável pelos resultados. A aprendizagem é favorecida quando há a formação de uma parceria, uma troca constante de informações entre pais e professores.
Inclusão requer esforços: a escola precisa investir na informação, no conhecimento, na adequação à criança com NEE. Mas a família também deve se comprometer. Os pais são aqueles que melhor conhecem seu filho, sabem como e com o que despertar seu interesse, sabem se acordos e combinados funcionam positivamente, se conflitos frontais valem a pena. Pai, mãe e irmãos sabem se recompensas ou castigos surtem efeito, que tipo de estratégias obtém resultados, sabem como driblar maus humores, birras e a resistência à mudança. Sabem como dar significado a conteúdos e funcionalizar aprendizagens, sabem usar o caminho do afeto, e sabem que as respostas podem demorar a aparecer... Muitas vezes, os pais, durante as lições de casa, acabam tendo idéias, descobrindo macetes e estratégias para a realização de tarefas, e poderiam passar essas dicas para a escola. TODAS as crianças aprendem melhor quando estimuladas em casa e quando suas aprendizagens transcendem o contexto escolar. Pais podem e devem ser envolvidos pela escola na aprendizagem da criança, podem ter um espaço para trazer estratégias que têm bom resultado em casa, mesmo que não haja garantias de que essas mesmas estratégias tenham o mesmo efeito no âmbito escolar.
A escola, por sua vez, sabe como a criança se coloca no grupo, como pratica os valores e expressa a educação que recebe em casa. Essa troca de informações enriquece a todos. Ter conhecimento sobre as prioridades e expectativas de ambos, escola e família, ajuda a reformular os conteúdos de aprendizagem quando necessário, de acordo com cada criança: o que pode ser deixado de lado, o que é vital no contexto familiar ou no escolar, o que parece não ter sido aprendido em um ambiente, mas se manifesta no outro.O saber da criança também é importante. Quando ela sabe que tem SD, tem menos dificuldades para lidar com as limitações impostas pela síndrome, e pode compreender melhor o porquê das estratégias adaptadas. Ela sofre mais com as pressões e reações a que é submetida quando não existe este conhecimento e nem são respeitadas suas reais características.
A evolução do aluno será o resultado da sintonia e da soma dos esforços da família e da escola. Enquanto a escola culpa os pais e os pais culpam a escola, ou se todos culpam a Síndrome de Down pela não-aprendizagem da criança, é ela quem sai perdendo. Não há movimento, não há transformação, o que há é uma criança estacionada, sendo puxada por forças opostas. A aprendizagem do aluno com SD não precisa ser vista como uma batalha, mas certamente como um desafio, onde cada conquista tem seu valor. Ambos, escola e família, devem olhar a criança antes e além da Síndrome, e admitir que apenas trabalhando unidos, de forma compartilhada e coerente, alcançarão resultados.
A criança que percebe que escola e família caminham em uma parceria coerente, se sentirá à vontade para desempenhar seu papel de personagem principal nesse cenário, o de aprendiz que também precisa fazer sua parte nesse processo: como qualquer pessoa, ele precisa querer, ele precisa se interessar e se esforçar para aprender.
(fonte: Josiane Mayr Bibas, Maria Izabel Valente - Grupo AprendizDown)

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